14/01/2025 às 22:06 Jornada do Corpo

O primeiro passo

1
3min de leitura

Essa foto marca um começo doloroso e profundo de cura!

Eu te confesso que meus pés são a parte do meu corpo mais difícil de olhar, que eu mais tenho repulsa. Mas é justamente neles que estão o foco do momento.

Passei a vida inteira negando o olhar e o cuidado com meus pés. Uma vida inteira traumatizada pelos comentários ofensivos e “brincadeirinhas” que pouco a pouco foram destruindo essa relação. Escondi meus pés! Não queria que as pessoas vissem, reparassem nos meus dedos grossos, a planta larga, as unhas sem pedicure, o solado encardido do solo matogrossense.

Desde que comecei a me fotografar e a focar nessas partes que me incomodam, passei a olhar pros meus pés. Mas uma relação tão destrutiva não se transforma com algumas fotos, nem com algumas reflexões.

Foi e tem sido um imenso esforço. Mostrá-los pro mundo era algo inconcebível!

Segui até chegar no presente momento, em que uma doença me deixou acamada por dias, e impossibilitada de fazer algo simples como caminhar.

Olhar para meus pés não era mais uma questão de aceitação ou autoestima, mas sim de saúde. A doença me trouxe atenção pro que eu rejeitei e a partir disso reflexões mais profundas se estabeleceram.

Fazendo uma analogia com a natureza - porque somos parte dela - nossos pés podem representar nossas raízes, nossa ancestralidade. O aterramento que necessitamos pra viver aqui e agora.

Nossos pés também nos contam sobre os caminhos que já percorremos, os obstáculos que transpassamos. Caminhos de dor, de luta e também de alegrias e conquistas!

Não olhar pra essa parte tão importante me fez esquecer (por um longo tempo) quem eu era, de onde eu vim, e tudo que eu já passei. Me fez esquecer de cuidar da minha sustentação, do meu movimento.

As dores intensas e ininterruptas tiraram o véu do descaso que eu tinha com meus pés. É impossível esquecê-los! Preciso olhar pra eles. Preciso olhar pra minha história e me firmar.

Tem sido dias de atenção plena e cuidados contínuos.

Na foto, meus pés em primeiro plano mostram aquilo que tento esconder de mim mesma. Me recordam que se eu não estiver firme, nada do que eu construir será sustentável. Me mostram a minha força de seguir tentando, porque pra fazer essa foto precisei de um esforço imenso pra caber na cadeira, me equilibrar mesmo com dor, e mantê-los alinhados.

Minhas mãos compondo com as pernas me mostram que os pés não se cuidam sozinhos.

Eu não me cuido sozinha!

Não consigo nem preciso fazer tudo, e que preciso de cuidados externos. De mãos que acolhem e aquecem! Elas tranquilamente dispostas sobre meus joelhos representam esse cuidado e atenção amorosa.

O amarelo intenso da pomada de açafrão me conecta com a natureza, com os saberes ancestrais de cura. Me lembra que é preciso paciência e dedicação no cuidado. Nada acontece da noite pro dia! Também me recorda de soltar o controle, e aceitar o que não posso mudar (aqui, no caso, o fato do açafrão manchar tudo e eu estar virando os Simpsons rsrs).

Esse autorretrato marca um momento importante, o primeiro de 2025 firmando o propósito de cuidar do meu corpo. Mais que apenas olhá-lo! Mais que apenas normalizar e aceitar minha imagem! Essa foto marca um começo doloroso e profundo de cura, iniciando nos meus pés sendo eles o meu maior desafio. O começo de uma Jornada onde meu olhar é outro, e minha volta nessa espiral de autoconhecimento através da fotografia pelo meu corpo partirá de um lugar mais profundo e desconhecido.

Fazer a Jornada do Corpo várias vezes é como mergulhar num oceano. Cada vez chego mais fundo, vejo coisas que não via antes, exploro outros lugares, tenho novas sensações e percepções. Vou conhecendo mais desse oceano, mapeando meu mergulho e os lugares que acesso!

Nunca é só sobre fotografia!

Como anda sua atenção pro seu corpo? Tem partes que vc tem se negado a olhar mas que estão pedindo seu cuidado?

Compartilha comigo suas percepções!

Facebook
WhatsApp
LinkedIn
Twitter
Copiar URL