Lute como uma Gorda

Belo Horizonte - MG

A TERRA CHORA

Confesso que nem sei direito o que escrever sobre esse ensaio. Cada trabalho que faço com a Malu me leva pra lugares dentro de mim que antes desconhecia. Lugares onde encontro minha força e potência, e também meus medos e inseguranças.


Faziam 2 anos que eu e Malu não nos víamos e não produzíamos juntas. Nesse tempo amadurecemos e estruturamos os ensaios que gostaríamos de fazer quando esse encontro acontecesse.


Desde que Malu foi morar em BH conversamos mto sobre as ações das mineradoras em Minas Gerais e como isso é violento com o corpo da Terra. Queríamos falar sobre isso! Sobre como esse cis-tema altamente destruidor vem predando a terra e nossos corpos, como diz Ailton Krenak.


Aqui em Mato Grosso nossos trabalhos já denunciaram a destruição dos nossos biomas pelo agronegócio, e chegou a vez de falarmos sobre a destruição causada pela mineração. Montanhas imensas de dejetos, rastros e mais rastros de aniquilação da natureza. Extraem tudo que podem e abandonam os canteiros como estão.

Se fizermos um paralelo com o que acontece com nossos corpos, percebemos que não é muito diferente. Nos usam, nos sugam, tiram tudo de nós e nos deixam ali... um imenso buraco de destruição!


O título do ensaio - A TERRA CHORA - surgiu depois que Malu foi visitar Inhotim e se emocionou com a exposição "Sons da Terra" de Doug Aitken. Ao ouvir o som da Terra, Malu conta que a ouviu chorar, e chorou junto. Ao andar por Minas Gerais e ver tantas mineradoras, é impossível não pensar que a Terra está sofrendo, e a maioria de nós está apenas ignorando esse fato!

Com o título em mente, fomos em busca da locação, mas não é tão simples assim entrar numa mineradora pra fazer um ensaio criticando né rsrs. Depois de muita pesquisa decidimos ir aos túneis que ficam entre BH e Sabará, por questões de logística e segurança, uma vez que esses túneis são destino de ciclistas e aventureiros.


Mas o que esses túneis têm a ver com a mineração?


Tudo! Eles foram construídos na época da ditadura militar, nos "anos dourados" pra transportar minério de ferro de MG para Rio de Janeiro. Contudo a geografia impediu o avanço da obra, porque era simplesmente impossível seguir com as linhas de trem. Tudo foi abandonado, e o rastro da destruição segue ali. Os túneis não são usados mas estão dentro da propriedade de uma mineradora, logo, estávamos em terras inimigas.


No dia do ensaio caía uma chuva torrencial, daquelas de dar medo! Saímos de madrugada, pegamos o Mateus (fotógrafo querido que nos acompanhou, registrou os bastidores, mesmo estando com o pé machucado), e seguimos em direção a Sabará. Estávamos com um carro alugado, e à medida que nos afastávamos da cidade a paisagem ficava mais hostil. Sobe montanha, desce montanha, aquela chuva cabulosa, e nós 3 tensos dentro do carro. Não sabíamos exatamente onde era nem o que encontraríamos. Pensamos várias vezes em desistir e voltar, mas seguimos (ainda bem)!

Quando chegamos em frente à um dos canteiros de obras da mineradora, onde a localização do GPS nos levou, não vimos os túneis. Já estava pronta pra dar meia volta quando Mateus viu um dos túneis. A gente parou entre 2 deles, mas o nervosismo quase me impediu de vê-los. Descemos correndo!


Era 4h50 da manhã e não sabíamos se chegaria alguém, ou se nos expulsariam de lá (na melhor das hipóteses, pq a pior seria nós irmos presos). Foi o ensaio mais rápido que fizemos, com duração total de 10 min. Isso só foi possível porque esse é o 11º ensaio que fazemos, e a gente se conhece tão bem que a performance flui rapidamente. Além disso tinha o medo, muito evidente nos rostos de nós 3!

A chuva parou no exato momento que liguei a câmera, como uma benção da Terra pra que a gente pudesse fazer essa denúncia.

Terminamos e entramos rápido no carro. Felizes e emocionadas com nosso feito! Não só pelas fotos em si, mas pelo nosso reencontro depois de 2 anos!

Quando já estávamos no caminho de volta cruzamos com um ônibus cheio de trabalhadores da mineradora. Mais uma vez a Terra nos abençoando. Saímos na hora certa!


Agora me conta aqui, o que você sente ao ver essas fotos?